O nome de Gala Éluard Dalí é muitas vezes associado à esposa e musa inspiradora de Salvador Dalí, mas muitas pessoas talvez desconheçam que por trás da figura constantemente retratada nas obras do pintor espanhol havia uma mulher à frente de seu tempo e grande parceira de seu trabalho.
Gala contribuiu ativamente para que Dalí se tornasse o grande nome do surrealismo e, não à toa, em determinado momento de sua carreira ele passou a assinar o seu nome e o dela em diversas pinturas, dando pistas de que a criação era conjunta.
De origem russa, Gala nasceu Elena Ivanovna Diakonova, na cidade de Kazan, em 7 de setembro de 1894, em uma família de intelectuais.
Passou boa parte de sua infância em Moscou, era uma aluna brilhante e por isso completou os seus estudos na renomada academia para moças MG Brukhonenko. Posteriormente, a jovem obteve licença para se tornar professora primária.
Por volta dos 15 anos contraiu tuberculose e foi enviada a um sanatório na Suíça para fazer o tratamento. Foi em sua estadia na Suíça que ela conheceu o jovem Eugène Grindel que, por conta do incentivo de Gala, ganhou projeção artística como poeta e assumiu o nome Paul Éluard. O poeta francês se tornou o seu primeiro marido em 1917 e com ele teve a única filha Cécile, em 1918.
Através do trabalho de Éluard, Gala passou a ter contato com famosos intelectuais da época, entre eles o teórico do surrealismo André Breton e alguns pintores surrealistas. Ela, então, passou a modelar e se tornou inspiração para diversos escritores e artistas como Louis Aragon, Max Ernst e, posteriormente, Man Ray.
Foi apenas em 1929 que Gala e Dalí se conheceram – o jovem e promissor pintor espanhol era 10 anos mais novo do que ela. Ainda naquele ano, Gala rompeu o casamento com Éluard e foi morar com Dalí.
Iniciou-se então um período de grande colaboração artística entre ambos. Dalí inclusive foi quem lhe deu o apelido Gala, inspirado pelo romance do alemão Wilhelm Jensen, intitulado “Gradiva”, palavra em latim para “aquela que avança”. O livro serviu de base para o estudo de Freud “O delírio e os sonhos na ‘Gradiva‘ de W. Jensen”, obra aclamada por muitos artistas surrealistas.
Para Dalí, Gala foi a sua verdadeira redenção e possibilitou que ele avançasse na carreira artística. Além de posar para os trabalhos do marido, ela delineava exatamente a sua autoimagem e como o pintor deveria retratá-la.
Da intensa colaboração que culminou na arte e na imagem pública que se tornou Salvador Dalí, nasceu obras como: Comienzo automático de un retrato de Gala (1939), Galarina (1945), La madona de Portlligat (1949), Gala Placidia (1952), Máxima velocidad de la Madona de Rafael (1954) e El Pie de Gala (1975‐76).
Gala e Dalí formavam uma intrínseca aliança e quando se analisa a fundo esboços e textos do próprio pintor, há que se reconhecer o importante papel desempenhado por ela nos mais audaciosos projetos que alçaram Dalí à fama internacional.
De suas criações individuais, sabia-se que costumava escrever bastante e desenhava as suas próprias roupas. O que restaram foram poucos objetos surrealistas e algumas páginas de diário que serviram de base para uma tentativa de desvendar a figura misteriosa e genial por trás da mulher que desafiou tanto os costumes de uma época. Reunidos, esses itens fizeram parte de uma inédita exposição no Museu Nacional de Arte da Catalunha em 2018, nomeada Gala Salvador Dalí.
Gala, portanto, não era apenas o corpo ou rosto que aparecia em muitas das pinturas de Dalí, pelo contrário, ela tinha voz ativa sobre a obra, aconselhava, incentivava, liderava a administração financeira do ateliê e contribuía com muitas ideias. Os dois estiveram juntos por 53 anos, até a morte de Gala, em 1982. Ela foi fundamental para o desenvolvimento de Dalí e peça-chave para o que se conhece de mais marcante da obra do pintor, considerado um dos maiores artistas do século XX.
Fonte Imagens: https://www.salvador-dali.org https://www.wikiart.org/ https://uol.com.br/ https://fahrenheitmagazine.com/ https://www.thoughtco.com/